FEMINISMO BRANCO, MULHERES NEGRAS, MULHERES INDÍGENAS E MULHERES LATINO-AMERICANAS

QUANDO A AUSÊNCIA DE DISCURSOS GERA A SUPRESSÃO DE DIREITOS

Autores

  • Luciane Toss Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos

DOI:

https://doi.org/10.29327/1163602.7-585

Resumo

O feminismo decolonial propõe um outro lugar de enunciação das mulheres, considerando raça, classe e sexualidade no reconhecimento da diversidade identitária. Há uma revisão do universalismo da pessoa política privilegiada das mulheres brancas, atribuída pelo feminismo hegemônico, cujas teorias não servem para identificar e atuar sobre as realidades das mulheres racializadas, indígenas e latinas, de origem provenientes de territórios colonizados. A ideia é de um feminismo contra-hegemônico, crítico às epistemologias feministas clássicas, voltado às pautas das mulheres silenciadas pelos sentenciamentos históricos (LUGONES, 2014). Enquanto o feminismo clássico se dedicou, exclusivamente, à crítica ao sujeito masculino universal e a sua desconstrução, o feminismo branco, ocidentalizado, do norte global, manteve a defesa de sistemas de exclusão e de privilégios baseados na racialização das reivindicações e dos direitos. Assim, esta pesquisa tem como objeto de estudo, a partir da seleção de feministas latino-americanas e, desde a Crítica ao Sujeito Feminismo Universal e do feminismo decolonial, localizar pautas conflitantes na proteção dos direitos humanos das mulheres entre feministas hegemônicas (brancas e do norte global) e feministas latino-americanas, indígenas e negras (do sul global). A justificativa da relevância social da temática encontrasse na necessidade de romper o racismo e recolocar os privilégios brancos em questão, pois os dados revelam que considerando-se a cor ou raça, a desigualdade no atraso escolar se apresenta de forma considerável entre as mulheres: 30,7% das pretas ou pardas de 15 a 17 anos de idade apresentaram atraso escolar no ensino médio, enquanto que apenas 19,9% das mulheres brancas dessa mesma faixa etária estavam em situação semelhante (IBGE, 2019). Também, segundo o IBGE (2019), 39,8% de mulheres negras compõem o grupo submetido a condições precárias de trabalho – homens negros abrangem 31,6%; mulheres brancas, 26,9%; e homens brancos, 20,6% do total. Bem como, as mulheres são as principais vítimas das violências praticadas contra as comunidades indígenas no mundo, de acordo com relatório da ONU. Os dados da organização mostram que mais de 1 em cada 3 mulheres indígenas são estupradas ao longo da vida - e a violência faz parte de uma estratégia para desmoralizar a comunidade ou como "limpeza étnica". No Brasil não é diferente, em que no Mato Grosso do Sul, os casos de violência contra a mulher indígena aumentaram em aproximadamente 495% (HUFFPOST, 2016). O artigo tem como objetivo, a partir da seleção de feministas latino-americanas, localizar pautas conflitantes entre feministas hegemônicas (brancas e do norte global) e feministas latino-americanas e negras (do sul global) e apontar a existência ou não de obstáculos, entraves ou retardos no reconhecimento dos direitos das mulheres latino-americanas, indígenas e negras nos sistemas global e regional de proteção de direitos humanos. A metodologia utilizada na realização da pesquisa tem como base o método dedutivo, utilizando-se a pesquisa bibliográfico-documental. A hipótese inicial é a de que o feminismo clássico, branco, ocidentalizado e do norte global, contribui para a supressão de direitos humanos das mulheres negras, indígenas e latino-americanas quando na ausência de seus discursos.

Publicado

31.12.2022