RESISTÊNCIA E IDENTIDADE EM “TORTO ARADO”
A HERANÇA DA ESCRAVIDÃO E A LUTA POR DIREITOS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Palavras-chave:
DIREITOS HUMANOS, EXCLUSÃO SOCIAL, NECROPOLÍTICA, RACISMO ESTRUTURALResumo
O presente trabalho se desenvolve a partir de uma análise da obra literária “Torto Arado” de Itamar Vieira Junior, com ênfase nas marcas deixadas pela escravidão no Brasil e que prevalecem nos dias hodiernos. Nesse sentido, a pesquisa retrata as múltiplas formas de exclusão de direitos humanos enfrentadas pelos personagens, os quais são descendentes de escravizados e habitam a região da Chapada Diamantina - Bahia - Brasil. A justificativa para o estudo se dá mediante ao fato do livro em questão oferecer uma perspectiva acerca do racismo estrutural, da exclusão social e da necropolítica, problemas sociais persistentes que são debatidos na obra a partir de uma narrativa envolvente. Consoante a isso, o trabalho possui o objetivo geral de analisar como este livro retrata a resistência e a identidade do povo que o protagoniza. Paralelamente, tecem-se objetivos específicos, quais sejam: explorar a herança da escravidão e suas implicações em problemas sociais contemporâneos; discutir o conceito filosófico da necropolítica frente às questões abordadas no romance e propor possíveis políticas públicas de enfrentamento às desigualdades apresentadas no livro. A fim de que tais objetivos sejam cumpridos, aplica-se uma metodologia de abordagem qualitativa, a qual combina análise literária e revisão bibliográfica. A primeira se voltará aos personagens, enredo e temas do livro escolhido. A segunda, por sua vez, perpassará os estudos de Achille Mbembe sobre necropolítica e racismo estrutural, além de outras pesquisas selecionadas na área. Dado o exposto, são estabelecidas hipóteses iniciais através das quais poderá ser demonstrado como a continuidade da exclusão social e racial da população negra brasileira está atrelada à herança escravocrata. Ademais, a pesquisa poderá revelar a ausência ou a falha no que se refere às políticas públicas que deveriam garantir acesso equitativo à saúde, educação, moradia e emprego, o que reforça a vulnerabilidade sociorracial. Dado o exposto, inicialmente, os resultados parciais indicam que a herança da escravidão continua a moldar as relações sociais e econômicas no Brasil contemporâneo. Dessa forma, observa-se a luta pela posse e propriedade da terra, que é tema central da obra estudada. Além disso, a partir do livro é possível averiguar como a vida dessas populações ainda é negligenciada ao ponto da falta de acesso a serviços de saúde adequados colocá-la em risco. Outrossim, a educação ou a falta dela também é um aspecto crítico, o que limita as oportunidades e reforça o ciclo de pobreza e exclusão. Há que se falar ainda na precariedade das moradias apresentadas na obra, o que reflete a realidade de comunidades rurais e urbanas negras no Brasil. Destarte, a obra retrata a luta diária por um espaço digno para viver, bem como o acesso a garantias básicas, o que evidencia a falha do Estado em garanti-las. Em razão das falhas estatais em implementar e permitir a acessibilidade de políticas assistenciais, ocorre a perpetuação da exclusão de direitos humanos para com as populações negras, o que instiga reflexões e mudanças urgentes.