Entre Nixon e Reagan
A Tentativa de Jimmy Carter de Promover os Direitos Humanos na Relação entre os Estados Unidos e a Ditadura Militar Brasileira
Palavras-chave:
Ditadura Militar Brasileira, Jimmy Carter, Direitos Humanos, Tortura, Relação Brasil e Estados UnidosResumo
A pesquisa apresentada propõe uma análise da política de pressão (1977-1979) feita pelo então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, sob a ditadura militar brasileira, em decorrência das constantes violações dos direitos humanos perpetuadas pelo regime dos generais. Consideradas parte do fracasso do presidente democrata, as políticas de Carter em relação ao regime brasileiro acabaram por marcar a ditadura de diversos modos, fissurando a relação entre os generais e seu principal aliado desde o golpe de 1964. Mesmo sem ter conseguido acabar com os abusos da ditadura, as ações do democrata influenciaram o processo de “reabertura” e provocaram mudanças no governo militar brasileiro, algumas que podem ter levado à sobrevivência de diversos presos políticos. O trabalho apresentado delimita como as ações de Carter afetaram a opinião pública nos Estados Unidos e no Brasil, em relação ao seu governo e à ditadura brasileira. A pesquisa também oferece comparações com as diferentes medidas de manejo da aliança entre os Estados Unidos e o regime brasileiro, no contexto da Guerra Fria tardia, especialmente após as alterações profundas que o governo de Richard Nixon promoveu, ampliando o papel dos norte-americanos nas violações de direitos humanos que aconteciam ao sul. A relação da política de proteção aos direitos humanos com os intentos estadunidenses de frear o programa nuclear brasileiro também é discutida nas análises apresentadas. Os períodos de repressão do regime brasileiro são avaliados considerando as políticas do governo Carter, em conjunto com outros fatores importantes, para delimitar até que ponto suas ações tiveram alguma efetividade em frear os grupos de terrorismo de Estado no Brasil. A metodologia aplicada conta com o uso de mídia histórica com presença notável no Brasil, em especial o New York Times, único jornal estadunidense de forte influência no público norte-americano que manteve um escritório com correspondente exclusivo para cobrir acontecimentos no Brasil, durante todo o regime militar. São relacionadas as fontes primárias com bibliografia brasileira e estadunidense, permitindo uma análise comparada sobre a efetividade das políticas de Carter. Oferece-se uma análise completa de como a abordagem do governo democrata e a amplificação das histórias de abusos aos direitos humanos no Brasil, promovidas pela ação do presidente e sua primeira-dama, afetaram a política repressiva do regime militar, este que já não gozava de apoio do público no seu aliado do norte desde a implantação do AI-5, que fez com que a mídia estadunidense passasse a oficialmente descrever o regime como uma ditadura militar. A pesquisa também mostra como a animosidade e até o rompimento provocado danificou a imagem do presidente norte-americano em seu próprio país e serviu de ferramenta para a campanha de Ronald Reagan, que viria a derrotá-lo no seu intento de reeleição. Analisa-se também como os regimes latino-americanos ofereciam um apoio “fantasma” ao candidato republicano, com o objetivo de recuperar a sintonia dos anos da Alliance for Progress, balizando-se no anticomunismo que mantinha as ditaduras no poder na América Latina.