A COMISSÃO DA VERDADE DA ESCRAVIDÃO NEGRA NO BRASIL E A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO

Autores

  • Julio Cesar Adiala Universidade Estácio de Sá (UNESA)

Palavras-chave:

Comissão da Verdade, Escravidão, Justiça de Transição, Racismo

Resumo

A estrutura social brasileira, herdada do modelo colonial escravista, ainda não completou sua transição para uma sociedade igualitária, sem desigualdades oriundas de privilégios raciais. O demonstram os vários casos de racismo noticiados pelos jornais, o comportamento policial diante de corpos negros e a situação de pobreza vivida pela maioria da população negra. A permanência desse problema justifica a realização do presente trabalho, que procura trazer contribuições para a discussão sobre os mecanismos de efetivação da justiça de transição, partindo do caso da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil (CVENB). O trabalho tem como objetivo analisar a CVENB como um instrumento de realização da justiça de transição que pode garantir a superação das desigualdades raciais e a efetividade do princípio da igualdade perante a lei, sem distinção de cor e etnia. Os objetivos específicos do trabalho são verificar em que medida as ações da CVENB contribuem para a efetivação da reparação da escravidão negra, seja por sua atuação junto as políticas de ação afirmativa, seja em suas ações de resgate da memória dos povos escravizados e como estas ações podem possibilitar a elaboração de uma narrativa sobre a identidade nacional que reconheça e incorpore a negritude como uma característica da sociedade brasileira. A partir desse estudo o trabalho problematiza as noções de reparação da escravidão, memória coletiva, direito à verdade e racismo estrutural recorrendo a uma revisão da literatura jurídica e sociológica, a partir de pesquisa bibliográfica e documental. Nesse sentido, o trabalho enquadra a CVENB no contexto da Justiça de Transição, que abrange os processos e mecanismos associados a tentativas de uma sociedade para lidar com o legado de abusos em grande escala do passado e visa assegurar a responsabilidade, justiça e reconciliação social. A CVENB tem como propósito promover a reparação da escravidão e para isso busca responder a 3 perguntas fundamentais: quais foram os crimes praticados, como foram eles praticados e por quem foram eles praticados. A partir das respostas a estas indagações a CVENB vem conduzindo ações em busca da reparação material e simbólica da escravidão e da condenação do Estado brasileiro pelo crime de escravidão contra a população negra. Em conclusão, verificamos que o trabalho da CVENB está em sintonia com o movimento global de luta pela reparação da escravidão iniciado após a III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância”, da ONU, realizada em 2001, que reconheceu a escravidão e o tráfico de escravos no Atlântico como crimes contra a humanidade. Esta luta, recentemente, resultou no reconhecimento por parte de algumas nações europeias dos danos do colonialismo ao processo de indenização material das nações vítimas da exploração colonial.

Biografia do Autor

Julio Cesar Adiala, Universidade Estácio de Sá (UNESA)

Doutor em História das Ciências e da Saúde (COC-FIOCRUZ). Mestre em Sociologia (IUPERJ), Bacharel em Ciências Sociais com área de concentração em Antropologia (UFRJ), Especialista em Gestão da Cultura (UNESA) e Administração Pública (SSPA - Itália). Professor Adj VI e coordenador do curso de licenciatura em Sociologia EAD, na Universidade Estácio de Sá (UNESA). Membro do grupo de pesquisa Observatório de Políticas Públicas, Direito e Proteção Social, do Programa de Pós-Graduação em Direito da UNESA. Áreas de interesse: Racismo, Direitos Humanos, Drogas, História da Ciência, Políticas Públicas.

Publicado

06.01.2022