IMIGRAÇÃO FEMININA, SAÚDE MENTAL E CUIDADO DE FILHOS

Authors

  • Rosane Mantilla de Souza Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.29327/1163602.7-294

Keywords:

SAÚDE MENTAL, MULHERES, IMIGRAÇÃO, MIGRAÇÃO, DESLOCAMENTO

Abstract

Mulheres migrantes e imigrantes podem ser vistas como impotentes e desamparadas, fugitivas de perseguição política, conflitos armados, tortura, catástrofes e/ou condições socioeconômicas extremas. Mas, a ênfase sobre as violências que vivenciaram originariamente, bem como durante o deslocamento, e suas consequências em quadros como transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade e queixas somáticas graves, mascaram outras demandas que transcendem a ação dos psiquiatras. Por um lado, devemos considerar que a incidência desses transtornos varia muito, em decorrência de diferenças entre os grupos culturais estudados, grau e tempo de exposição, e de quando é feita a avaliação, por outro, a ênfase nos transtornos psiquiátricos torna invisível a presença e perpetuação de níveis altos de estresse que inviabilizam o aproveitamento dos aspectos positivos do deslocamento e do esforço dispendido tanto para si, quanto para seus filhos, bem como a necessidade de atuarmos para tanto. Há consenso de que as condições pré-imigração, tanto quanto os fatores pós-imigração, serão preditores da saúde mental não só dos diretamente envolvidos. O deslocamento implica em ruptura de vínculos com filhos e familiares que ficaram para trás, a morte ou desaparecimento de familiares; e em desenraizamento, expresso no afastamento das rotinas do território de origem, na mudança de língua ou de especificidade de significados, nas mudanças climáticas e de ambiente, no afastamento da lógica do funcionamento comunitário e na dependência dos órgãos humanitários. Em conseguindo instalação há que enfrentar novos níveis altos de estresse associados a problemas de desemprego, perda de status material e ocupacional; dificuldades de moradia ou a necessidade de viver em vizinhanças com nível acentuado de pobreza e periculosidade, falta ou dificuldade de acesso a apoio comunitário, dependência de serviços sociais. Todas essas condições que se retroalimentam, aumentam o risco de transtornos mentais comuns ou “menores”, caracterizados em sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas como dor crônica, que designam situações de sofrimento mental e que trazem dificuldades no cuidado da prole que, então, se perpetuam em um círculo sem fim de perdas trigeracionais evitáveis. Enfrentar tais impactos depende do que for feito em termos de acolhimento e política de saúde mental para deslocados. Há necessidade de avaliar tanto os riscos relativos aos problemas “maiores”, quanto cuidar e validar os “menores”, de modo a criar condições de futuro positivo e promover resiliência. Validar o processo vivido e favorecer um futuro digno. Para tanto, precisamos rever ou desenvolver políticas socioeconômicas inclusivas e sensíveis a diferenças, bem como favorecer o treinamento de profissionais, não só psicólogos, mas todos os envolvidos no processo migratório, conscientizando-os sobre as demandas de saúde mental e de atenção apropriada de escuta, tanto do sofrimento quanto da força dessas mulheres.

Published

2022-12-31