O FUNCIONAL ANALFABESTISMO DIGITAL DA PESSOA IDOSA

A TECNOLOGIA DE APROXIMAÇÃO E INCLUSÃO, EFETIVAMENTE DISTANCIA E EXCLUI?

Authors

  • Carlos Affonso Leony Neto Universidade Estácio de Sá
  • Patrice Desirée Neves de Mello Universidade Estácio de Sá

DOI:

https://doi.org/10.29327/1163602.7-346

Keywords:

Pessoa Idosa; Tecnologia; Políticas públicas; Estado; Economia da Vida; Sociedade Plural e Desigual; Dignidade da Pessoa Humana

Abstract

O termo cunhado que atribui título a este trabalho é paráfrase emprestada do original conceito de analfabetismo funcional criado na década de 30, nos EUA, que passou, posteriormente, a ser utilizado pela UNESCO para se referir às pessoas que, apesar de saberem ler e escrever, não conseguem compor e redigir corretamente uma pequena carta. Estudos realizados pelo IBGE sustentam que o Brasil poderá ocupar o quinto lugar com a população mais idosa do mundo em 2030. O número de idosos vai superar, pela primeira vez, o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. Compreendendo o dever do estado em implementar políticas públicas, a Lei brasileira 14.741/03, à frente do seu tempo, já impunha que: “o Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação [...]”, estabelecendo, para tanto, que “os cursos especiais para idosos incluirão técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna”. É incontroverso o distanciamento inconsciente que a a tecnologia proporciona, não só aos mais antigos, mas, igualmente, aos mais jovens. Ainda que presente certa cultura acumulada em determinada população idosa privilegiada, aquela dita academicamente letrada, o desinteresse pelos botões, softwares, App’s, rotinas, conceitos e adereços, comuns a esse maravilhoso mundo novo, não privilegia, respeita, separa ou agrega, seletivamente, idosos de níveis culturais ou classes sociais distintas. As tarefas mais comezinhas de outrora, hoje são impossíveis de resolver presencialmente ou, ainda, por um simples telefonema, falando com alguém do outro lado da linha. Nos submetemos a robôs que determinam quais números você deve, entre noves, zeros, asteriscos, reticências e jogos da velha, apertar. Este desencontro geracional de conceitos, que no passado resumia-se a temas, muitas vezes, de tradições comportamentais, cruzou a novel linha da evolução, distanciando, ainda mais, as gerações. A modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade. Ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx. “tudo o que é sólido desmancha no ar” (BERMAN, 1940, p. 15). Esse mal acometerá sucessiva gerações. Os idosos de hoje, foram os jovens de ontem. Através de revisão bibliográfica e análise documental como metodologia de pesquisa, dos pensamentos de Marshal Berman e Michael Sandel (SANDEL, 2021), serão desenvolvidos os conceitos de modernidade e mérito, problematizando o abismo social que se avizinha, atribuindo relevância a pesquisa. Encontrando indícios da ausência de políticas públicas de inclusão, destinadas a minorar, não só o analfabetismo ordinário, mas, igualmente, o funcional analfabetismo digital, promovendo aproximação e integração social da pessoa idosa, é preciso pensar em novas formas de linguagem adaptadas ao público mais velho. O presente artigo buscará responder, ainda que parcialmente, os questionamentos: Quais impactos sociais a exclusão digital da pessoa idosa ocasionará na sociedade moderna?; Como assegurar equidade no tratamento geracional, uma vez que o avanço tecnológico contribui, a passos largos, para a profusão da exclusão e distanciamento social dos mais idosos?

Published

2022-12-31