EDUCAÇÃO EM PRISÕES

LEGISLAÇÕES, AÇÕES E CONTRADIÇÕES NO SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL

Authors

  • Eli Narciso da Silva Torres 55 (61) 981-88-1386

Abstract

A remição de pena pelo estudo é um mecanismo jurídico previsto no Brasil pela Lei n.º 12.433/2011. Essa legislação alterou a Lei de Execução Penal e dispõe que o condenado que cumpre pena, poderá deduzir parte do tempo da condenação, mediante a escolarização nas modalidades de ensino fundamental, médio, profissionalizante ou superior. A lei garante a redução de um dia de aprisionamento a cada doze horas de estudo (TORRES, 2019). A remição resulta de alteração legislativa que reconhece o direito de a pessoa presa reduzir parte da pena pela frequência escolar, após longo período e debates jurídicos sobre a garantia de direitos à educação e a possibilidade de remição pela educação no Brasil. A política foi gestada no interior de uma questão carcerária mais ampla, observa-se, inclusive, que a importação da experiência norte-americana, na direção de novas alternativas de “punir melhor”, elevou uma parcela significativa da população de dez países latino-americanos, os quais institucionalizaram a remição de pena, ao patamar de prováveis delinquentes. As transformações são da mesma base, acrescidas do aparelhamento jurídico das prisões provisórias que mantêm preso o indivíduo a quem caberia, em tese, a presunção de inocência. Assim, as prisões contribuíram de modo excessivo para o endurecimento das legislações penais, além de criminalizar, de maneira gerencial, os indivíduos já pauperizados. Observa-se, nesta chave de análise, a correlação abarcada pela prisão e o uso da prisão provisória no desempenho destes países como possibilidade punitiva, na medida em que se adequaram ao mecanismo judiciário da prisão cautelar, como elemento político a fim de forjar, discursivamente, o estabelecimento da “Lei” e a manutenção “Ordem” pública. Na mesma perspectiva do ocorrido no Brasil, a partir do Advento da Lei 8.072/1990 e suas alterações, que incluem gradativamente, no decorrer das últimas três décadas, outros tipos penais à lista dos crimes hediondos, e da aplicação equivocada da Lei de Drogas - 1.343/2006, de modo a endurecer a legislação. O balanço desses aprisionamentos indica um crescente fortalecimento de um estado penitenciário latino-americano, ao mesmo tempo em que ocorre, numa direção contrária, encontra-se a remição pela oferta da educação na prisão, com aspectos de resistência ao Estado penal, e em favor do desencarceramento gradativo que auxilia para apaziguar, em certa medida, conflitos penitenciários gerados pela superlotação carcerária. Vale sublinhar que as consequências seriam ainda maiores em cenários que não adotassem a possibilidade de redução de pena pela educação e/ou trabalho, especialmente porque abrevia o tempo de prisão, tratando-se de um arrefecimento dos indicadores frente aos altos índices de prisões provisórias nesses países. Porém, ainda assim, os Estados Nacionais têm ampliado a penalização, utilizando-se do recurso da reclusão em prisões para punir os indesejados. Essas transformações demonstram a dinâmica e a complexidade que envolvem o fenômeno social das prisões sem condenação, apontando, inclusive, que não há um engessamento, ou seja, um modelo hegemônico que se reproduziria com as mesmas características em sociedades culturalmente distintas. Vê-se que os indicadores não demonstrarem proporcionalidade ou similaridade entre os índices de prisões provisórias europeias e, neste caso, nas latinas americanas.

Author Biography

Eli Narciso da Silva Torres, 55 (61) 981-88-1386

Socióloga e Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em Estágio de Pós-doutoramento no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA FCSH), da Universidade Nova de Lisboa, Portugal.  Pesquisadora Colaboradora vinculada ao Núcleo de Políticas Públicas (NEPP) e ao Observatório de Violência, Segurança Pública e Penitenciária, na Universidade Estadual de campinas (Unicamp).  

Policial Penal Federal da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen/MJSP).

Autora dos livros "Prisões, Violência e Sociedade: Debates Contemporâneos" (Org. 2017) e "Prisão, Educação e Remição de Pena no Brasil" (2019). 

No âmbito do Ministério da Justiça atua como Coordenadora-Geral de Pesquisas em Segurança Pública na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp/MJSP). 

https://orcid.org/0000-0002-8295-9367     (ORCID)

Published

2023-10-03

Issue

Section

SIMPÓSIO P18 - DHs E GARANTIA DE DIR. À EDUC. EM ESPAÇOS DE PRIV. DE LIBERDADE