O BAJUBÁ E O MOVIMENTO LGBTI+ BRASILEIRO DE 1960 A 2000
Abstract
No final da década de 1970, surge no Brasil, paralelamente às primeiras organizações em defesa da diversidade sexual e de gênero, uma forma de linguagem derivada de uma combinação entre a língua portuguesa e os idiomas iorubá, inglês e francês: o bajubá, um linguajar característico da comunidade LGBTI+ brasileira. A partir de uma fusão do português brasileiro com termos de grupos étnico-linguísticos africanos reproduzidos nas religiões afro-brasileiras o bajubá rompe padrões de gênero e de sexualidade característicos de uma suposta matriz heterossexual, conforme descrita por Butler em “Problemas de Gênero”. O objetivo desta pesquisa é investigar os usos dessa linguagem na mobilização política das organizações LGBTI+ e analisar a articulação dessas organizações com outras alas dos movimentos populares, como partidos socialistas/comunistas, o movimento negro e o movimento feminista. A pesquisa é realizada a partir de análise documental do material disponibilizado pelo Acervo Bajubá – uma organização de arquivo de documentos referentes à comunidade LGBTI+ brasileira localizada no município de São Paulo – acerca das organizações SOMOS, Triângulo Rosa, GGB (Grupo Gay da Bahia) e GALF (Grupo de Ação Lésbica-Feminista). O usuário principal do bajubá nesses documentos é o jornal Lampião da Esquina, que representa o periódico chave para a atuação a nível nacional do MHB (movimento homossexual brasileiro) para as décadas em que manteve suas atividades Em resumo, o bajubá é uma linguagem LGBTI+ pouco utilizada nos documentos analisados nesta pesquisa. Os documentos de circulação interna não possuem qualquer menção significativa a essa linguagem por não possuírem o mesmo objetivo que um jornal ou outros documentos de ampla distribuição: o de demarcar o tipo de pessoas que produzem e a que se destina o material, o de unificar e o de mobilizar. Já nos documentos externos, o pivô do uso dessa linguagem, o bajubá servia para tonalizar o discurso a fim de determinar sua sexualidade. O principal meio de sua utilização foram os jornais e os boletins, com destaque para o “Lampião da Esquina”. A necessidade de tonalizar o discurso mobilizador de debate político com uma espécie de “tom homossexual” somente se concretiza ao fazer uso de aspectos linguísticos específicos dessa população, e o meio no qual ele se concretiza com maior afinidade é no jornal. A pauta homossexual é debatida em diversos aspectos, embora, infelizmente, os principais debates se distanciem de uma pauta negra, feminista e até mesmo classista. Por fim, essa pesquisa espera pincelar, ao menos, a compreensão do movimento LGBTI+ no Brasil e seus possíveis caminhos de seguir adiante.