MANIPULAÇÃO E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E SOCIAIS
UTILIZAÇÃO DA ABORDAGEM SOCIOCOGNITIVA DOS ESTUDOS CRÍTICOS DO DISCURSO PARA ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Keywords:
POLÍTICAS PÚBLICAS, ESTUDOS CRÍTICOS DO DISCURSO, ABORDAGEM SOCIOCOGNITIVA, MANIPULAÇÃOAbstract
Ao longo da trajetória do campo de políticas públicas, a guinada argumentativa, ocorrida por volta de 1990, traz luz para o papel central das ideias (Capella, 2015), com os trabalhos seminais de Majone (1989), Stone (1989), Fischer e Forester (1993) e Fischer e Gottweis (2012). Seu objetivo é compreender como “os atores e esfera pública argumentam, retórica e deliberativamente, dentro e através de discursos, especialmente aqueles embutidos nas práticas discursivas das instituições.” (Fischer e Gottweis, 2012, p. 14). Contudo, existem dificuldades persistentes nos estudos no campo de públicas, pois deixam aberto como as ideias e interesses se ligam e afetam mutuamente a produção de políticas públicas (Campbell, 2002). Além do sentido de ideias permanecer impreciso nos modelos mais recentes de análise (Capella, 2015, p. 257). E mesmo com o institucionalismo discursivo (Béland e Cox, 2010), as lacunas permanecem devido a pouca ênfase aos contextos em que os discursos se localizam e em estabelecer quais ideias determinam fatos políticos (Schmidt, 2010). Nesta seara, os Estudos Críticos do Discurso (ECD) tem demonstrado um campo promissor para complementação do campo de públicas (Resende, 2017) com pesquisadores como Gunther Kress, Theo van Leeuwen, Ruth Wodak e Teun A. van Dijk. Este último possui um diferencial ao incluir o elemento cognitivo mediando a relação entre discurso e sociedade e o interesse por este pesquisador é pautado em duas questões por ele levantadas e respondidas: O que são ideias/crenças? (Van Dijk, 1998); Como o discurso, proferido por um indivíduo, controla a mente e ação de grupos menos poderosos e quais as consequências disso? (Van Dijk, 1998, 2005). Para responder essas questões, van Dijk aponta uma abordagem multidisciplinar baseada no triângulo discurso, cognição e sociedade, chegando à explicação do conceito de manipulação. Ou seja, o que se busca compreender com o triângulo diz respeito as relações de poder, produção e reprodução de ideias (van Dijk, 2016), procurando definir a manipulação, uma vez que não existe uma teoria sistemática sobre o assunto (Van Dijk, 2015, 2021). “A manipulação é ilegítima, porque viola os direitos humanos ou sociais dos que são manipulados” (van Dijk, 2015, p.238). Dessa forma, os discursos únicos ou ilegítimos tendem a derrocar a democracia (Mouffe, 2003) e a minar os direitos humanos e sociais. Estar atento aos mecanismos de manipulação é um aspecto importante, já que é um meio ilegítimo de convencer uma sociedade sobre o que de fato é relevante para ela. O objetivo deste trabalho é discutir sobre um quadro de referência teórico-metodológico que transponha os conceitos da abordagem sociocognitiva dos Estudos Críticos do Discurso (ECD) para análise de políticas públicas. Para tanto utilizou-se os principais livros de van Dijk, o que permitiu o desenvolvimento de dois quadros de referência teórico-metodológico. Através do entrelace do campo de Políticas Públicas e do ECD, foi possível definir as principais crenças utilizadas por indivíduos para, através do discurso, convencer os demais atores sociais, manipulando suas crenças para a formação e manutenção de determinadas políticas em detrimento à outras.