NEOCONSERVADORISMO E REDES SOCIAIS
O USO DO CIBERESPAÇO COMO FERRAMENTA ANTIGÊNERO
Keywords:
NEOCONSERVADORISMO, CIBERESPAÇO, DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS, VIOLÊNCIA DE GÊNEROAbstract
A pesquisa realiza um estudo crítico sobre como o neoconservadorismo coloca em tensão valores democráticos e reforça o desprezo pelos Direitos Humanos (Vaggione, et., al., 2020), impulsionado pelo uso estratégico das mídias sociais, inclusive por meio das desinformações e de teorias da conspiração, incentivando a polarização política e o ódio às minorias (Da Empoli, et. al., 2018). A hipótese é que no ciberespaço, com aplicação estratégica de vieses algorítmicos, as pautas “antigênero” são facilmente absorvidas, o que reforça a onda reacionária contra os avanços nos direitos humanos. Nesse sentido, por meio de uma revisão bibliográfica, a partir do método dedutivo, objetiva-se investigar como a internet contribui para a consolidação da pauta neoconservadora, fragilizando especialmente os direitos fundamentais das mulheres e da comunidade LGBTQIA+. A relevância da temática concentra-se no fato de que a linguagem do Direito e da Política vêm sendo substituída pelos algoritmos numérico-funcional-utilitarista-gerencial, extremamente relevantes para o neoliberalismo, que é maquiado pelo artifício da tecnologia e por manobras constitucionais (Sadin, 2018; Chueiri, Landau, 2020). Nesse cenário, a pauta conservadora, fundamentada em valores neoliberais e na suposta defesa da liberdade de expressão, encontrou campo fértil para o seu renascimento, em escala global (Soares; Ricoldi, 2022). Os neoconservadores se apropriaram dos instrumentos oferecidos pela internet para a construção de uma comunicação direta com os grupos que se identificam com a tradição, preconceito, hierarquia e autoridade, bem como com as instituições clássicas, tais como igreja e família patriarcal (Farah, 2021; Barroco, 2015). Há uma articulação crescente entre partidos políticos que defendem uma agenda comum, identificada com “valores cristãos”. Eles compartilham, antes de tudo, a defesa de uma ordem social e moral supostamente ameaçada diante do avanço do reconhecimento de direitos sexuais e reprodutivos (Vaggione, et., al., 2020). Sob o argumento de defesa da “família” e da “vida”, parlamentares têm se articulado, especialmente na América Latina, contra pautas relativas a esses direitos, inclusive exigindo que a Organização dos Estados Americanos – OEA abandone “a agenda abortista e de gênero que pretende impor a seus povos” (Vaggione, et., al., 2020, p. 63). Nesse contexto, os resultados parciais da pesquisa indicam que, no ciberespaço, observa-se uma escalada dos discursos de ódio contra as minorias sociais, especialmente, pautas anti-gêneros, que se mostram contrárias ao feminismo e à população LGBTQIA+ (Pulcino, Ferrari, 2024; Beleli, 2023). A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, da SaferNet indica que, no Brasil, as denúncias contra conteúdos misóginos veiculados na internet aumentaram de 961, no ano de 2017 para 28,6 mil, em 2022 (SaferNet, 2024). Segundo a SaferNet, a maior parte dos discursos de ódio contra as mulheres é propagado nas redes sociais, especialmente, Facebook, TikTok e Twitter (SaferNet, 2024). Por sua vez, os ataques contra a população LGBTQIA +, também apresentaram aumento nos índices, computando-se mais de 29 mil denúncias, no ano de 2022, tendo o Facebook e Twitter como os meios mais relevantes de divulgação dos discursos contra tal comunidade (SaferNet, 2024).