A (DES)INDUSTRIALIZAÇÃO TÓXICA
HISTÓRIA ORAL, DIREITOS HUMANOS E FÁBRICAS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA BAÍA DE GUANABARA (BRASIL) E BAÍA DE BIZKAIA (PAÍS BASCO, ESPANHA)
Keywords:
direitos humanos, meio ambiente, indústrias, historia oral, mundo do trabalhoAbstract
O objeto da pesquisa é a desindustrialização tóxica em perspectiva comparada Brasil-Espanha e os impactos nos direitos humanos nas baías de Guanabara Rio de Janeiro, Brasil) e Bizkaia (País Basco, Espanha). A desindustrialização tóxica ou nociva tem dois significados. O primeiro é a nocividade tradicionalmente entendida como danos diretos à saúde humana e ao ambiente causados por emissões tóxicas, resíduos plásticos e acidentes industriais. O segundo, mais abrangente, inclui a degradação ambiental, os danos à saúde física e mental causados pelo aumento do desemprego, os padrões de trabalho precários e a desintegração dos laços comunitários resultantes do processo. Justificamos o trabalho por sua relevância temática em tempos de emergências climáticas decorrentes da ação humana. A análise comparativa entre a baía de Bizkaia e a baía de Guanabara nos permitirá identificar semelhanças e diferenças, fornecendo um entendimento mais amplo das dinâmicas sociais, econômicas e políticas que permeiam essas áreas. Um dos aspectos mais evidentes da desindustrialização é o dano ambiental. Nas áreas escolhidas para este estudo, a desindustrialização mais visível está relacionada à poluição dos rios e baías, uma vez que as indústrias continuam liberando resíduos no solo e na água mesmo após o declínio do setor industrial. Partimos da hipótese da existência de "zonas de sacrifício" e buscamos analisar as consequências sociais e ambientais em duas paisagens distintas. A principal metodologia utilizada é a história oral em relação à história ambiental e à história comparada. Buscamos compreender até que ponto as narrativas dos habitantes, trabalhadores e ex-trabalhadores de fábricas, autoridades governamentais, ativistas, movimentos sociais e comunidades que vivem e trabalham nas regiões mencionadas podem revelar conflitos, desigualdades e violências sociais e ambientais decorrentes dessas zonas e uns impactos nos direitos humanos dos trabalhadores e demais comunidades que convivem nesses espaços. Além disso, ressalta-se que a pesquisa pode contribuir para o surgimento de formas de como lidar com a degradação do meio ambiente e com a nova realidade decorrente da extinção de antigos postos de trabalho, buscando alternativas sustentáveis e envolver as comunidades afetadas. Segundo David Harvey (2005), a acumulação de capital ocorre tanto pela exploração direta da força de trabalho, quanto por meio da espoliação de pessoas e de territórios. Neste sentido, a espoliação envolve práticas como a extração de recursos naturais de forma intensa, ignorando os impactos sociais e ambientais, o que evidencia a relação direta entre o capitalismo e a degradação ambiental, colocando em risco o ecossistema e as comunidades que dependem de tais recursos naturais. Estamos somente começando, mas já podemos dizer que é através do uso da prática da história oral que esperamos ver as lutas pelos direitos humanos, direito à cidade, à terra e aos territórios de interação. Precisamos de redescobrir as três ecologias de Félix Guatarri (Guatarri, 1990) e especialmente a ecologia do ser humano. Esse ser humano que sobrevive, se reinventa, tenta superar a perda. Resistente, insiste em esperar e recuperar horizontes utópicos e a memória é parte fundamental desse processo.