DORES SILENCIADAS

Authors

  • Helio Alves Universidade Católica de Santos (UniSantos)
  • Paulo Rogerio Alves Rodrigues Universidade Católica de Santos (UniSantos)

Keywords:

MULHER; VIOLÊNCIA; CRACOLÂNDIA; DROGAS;

Abstract

Esta pesquisa qualitativa elegeu como objeto de investigação científica a mulher adulta, usuária de drogas lícitas e ilícitas que frequenta a Cracolândia situada no bairro José Menino, em Santos (SP-Brasil). A importância do estudo passa pela defesa da humanização desse grupo, cuja saúde mental e sofrimento são subnotificados em razão do espaço que frequenta ser criminalizado pelo Estado, levando-o a ser percebido prioritariamente pela política de segurança pública, encobrindo a percepção de que se trata de sujeito de direitos. O indicativo prático dessa totalização negativa é a reduzida produção acadêmica com essa perspectiva, acrescido de outra relevância, o fato de o presente estudo ter ocorrido dentro da Cracolândia, de dezembro de 2023 a janeiro de 2024, em uma contemporaneidade de crescimento da população em situação de rua em diversos países, quer motivado por migrações, crise econômica, desemprego, desgaste de relações familiares e de vínculos afetivos, além da drogadição. O objetivo geral consistiu em verificar a fatualidade da violência contra esse coletivo; o objetivo específico era constatar a existência de uma agressividade orgânica alimentada pela relação opressora entre a sociedade convencional e a população em situação de rua com o recorte sobre mulheres com dependência química. A hipótese inicial era de que a falta de previsibilidade do dia da presença das políticas de Direitos Humanos neste território compromete a confiança, contribuindo para não se formar uma rede de apoio capaz de inibir ou socorrer a vítima que se encontra na Cracolândia. O método empregado no estudo foi a fenomenologia orientada pelo teórico Alfred Schütz, tendo sido ouvidas 20 mulheres, de 20 a 50 anos, com mínimo de dois anos de uso de substâncias psicoativas. Foi adotado um questionário com 15 perguntas e respostas de múltiplas escolhas; os convites à participação foram aleatórios, as adesões se deram de modo espontâneo com a abordagem sendo individual, anônima e sigilosa. Das 20 entrevistadas, sete delas têm até nove anos de frequência em Cracolândia; oito, de 10 a 19 anos; e cinco mulheres acumulam mais de duas décadas de vivência nesse tipo de espaço. Todas responderam já terem sofrido violência; 80% não tiveram qualquer apoio e ao se detalhar as 20% que receberam algum respaldo, verificou-se que em 75% dos casos a solidariedade partiu de outros adictos que convivem no mesmo espaço, frequentado, majoritariamente, por pessoas em situação de rua e do sexo masculino; e 25% tiveram acolhida familiar. Os dados fazem parte do trabalho de mestrado Profissional em Psicologia, Desenvolvimento e Políticas Públicas, da Universidade Católica de Santos (Brasil). A conclusão foi de que a imprevisibilidade do dia de trabalho, in loco, das políticas de Direitos Humanos, não foi suficiente para a construção de vínculo capaz de garantir a retaguarda, quer na prevenção como no socorro às vítimas de violências diversas na Cracolândia do bairro José Menino, comprometendo a saúde mental de corpos femininos.

Published

2024-10-02

Issue

Section

SIMPÓSIO On56 - DIREITOS HUMANOS, GRUPOS VULNERÁVEIS E VIOLÊNCIAS