O “CONSTRANGIMENTO PEDAGÓGICO” COMO PRÁTICA DE EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA
Keywords:
DISCURSO, RACISMO, EDUCAÇÃO-ANTIRRACISTAAbstract
A reflexão ora apresentada trata do processo de enfrentamento do racismo por meio do “constrangimento pedagógico”. Mecanismo idealizado pelo ativista, produtor, cultural, empresário e líder global da Central Única das Favelas (CUFA) Francisco José Pereira de Lima, autodenominado Preto Zezé, para se contrapor às variadas manifestações racistas que enfrenta, principalmente aquelas que tentam colocá-lo em situações de subalternidade. A questão em torno da qual se estabelece a discussão é: de que maneira as pessoas que sofrem preconceito racial no Brasil podem atuar para enfrentar e desconstruir os valores racistas que persistem na estrutura social do país? A temática oportuniza evidenciar, no campo discursivo e, portanto, da linguagem, de que maneira se estabelecem gestos de resistência contra a reprodução e persistência da ideia da subalternidade das pessoas pretas no racismo à brasileira, ideia essa que naturaliza a exclusão e a interdição de pessoas negras em espaços considerados de privilegiado social ou na posse/propriedade de bens materiais com valor considerados de médio e alto valor, práticas que podem ser entendidas como obstrução à ocupação de espaços sociais por grupos historicamente excluídos. O objetivo da nossa comunicação é o da criação de um espaço enunciativo que apresente ao público interessado um exemplo de educação antirracista e oportunize a mostra de vozes e gestos de resistência e luta dos excluídos pelo racismo na sociedade do Brasil, considerando essa prática do “constrangimento pedagógico” como uma alternativa, para além dos mecanismos punitivos já estabelecidos no arcabouço jurídico do país, que muitas vezes tem pouco êxito, justamente por diluir-se nas entranhas da estrutura excludente do já denominado racismo estrutural. O diálogo teórico metodológico se dá no campo da análise de discurso de linha francesa, mais especificamente com a teoria da revascularização discursiva, desenvolvida pelo pesquisador brasileiro da área da linguista Roberto Leiser Baronas, a partir dos seus diálogos com elaborações da discursivista francesa Marie-Anne Paveau (teoria da ressignificação discursiva) e da autora Gayatri Chakravorty Spivak, na obra “Pode o subalterno falar?” (2010). As reflexões aqui propostas se dão por meio da análise de narrativas episódicas, nas quais lança mão do “constrangimento pedagógico”, feitas pelo ativista acima mencionado, Preto Zezé.