MALDITA GENI E A REPRESENTAÇÃO DO ESTIGMA DA PUTA COMO UM ELEMENTO DE EXCLUSÃO DA TRABALHADORA SEXUAL ENQUANTO SUJEITO DE DIREITOS
DOI:
https://doi.org/10.29327/1163602.7-419Palavras-chave:
TRABALHO SEXUAL, REGULAMENTAÇÃO, MOVIMENTO ORGANIZADO DAS TRABALHADORAS SEXUAIS, ESTIGMA, MÚSICA BRASILEIRAResumo
“Ela é feita pra apanhar; Ela é boa de cuspir; Ela dá pra qualquer um; Maldita Geni” assim é descrita a trabalhadora sexual Geni na música “Geni y El Zepelín'' de Chico Buarque. A visão da arte sobre as trabalhadoras sexuais não é uma distorção da realidade. Geni é toda trabalhadora sexual, desde Madalena até as expositoras de conteúdo no aplicativo OnlyFans. O trabalho sexual é toda atividade desenvolvida com onerosidade em torno do sexo, seja através da prostituição, por meio da atuação em cenas de pornografia, atividade de caming ou outras similares e, em todas as suas vertentes as trabalhadoras sexuais, em sua maioria mulheres (motivo pelo qual se utilizará a palavra no feminino), encontram como barreira o “estigma da puta”. Existe, de um lado, um ideário de maldade e perversão de que a trabalhadora sexual é uma mulher “vulgar” (apesar de não se saber o que caracterizaria uma pessoa como tal) e impura. De outra perspectiva, há uma concepção de que a trabalhadora sexual é uma vítima indefesa que precisa ser salva por ser explorada. O trabaho com sexo, longe do que costuma ser dito, não é uma vida fácil, em realidade carrega uma dupla estigmatização que gera diversas consequências legais e sociais, como a exclusão política e o apagamento social. Ser maldita, faz com que “Geni” não tenha respeito em uma sociedade repleta de falsos moralismos, enquanto ser vítima faz com que todos possam falar sobre sua realidade menos ela própria. O apagamento estrutural das trabalhadoras sexuais tem afastado do âmbito social discussões sobre seus direitos, exemplo disso é o fato de que o PL Gabriela Leite, projeto de lei proposto por Jean Wyllys, a primeira lei com nome de puta, ter sido arquivado sem que sequer fosse instaurado um debate acerca de sua necessidade ou de suas razões. Em contraposto ao estigma estrutural, as prostitutas têm sido força de resistência e voz da necessidade de proteção ao trabalho sexual por meio do Movimento Organizado das Trabalhadoras Sexuais, um movimento cuja própria existência coloca em risco a coesão da sociedade normatizada, uma vez que se trata de um grupo composto pela classe social mais marginalizada e que clama por poder. Geni salvou sua cidade do Zepelim, não precisa de salvação, tem em sua voz, organizada com as outras “Genis”, o poder de lutar contra os estigmas. Destarte, o presente estudo busca fazer uma comparação entre a arte, pela análise da música “Geni y El Zepelín'', com a realidade das trabalhadoras sexuais, por meio de um estudo bibliográfico-social. Parte-se da hipótese de que o estigma da puta tem sido obstáculo estrutural ao debate da necessidade de uma legislação protetiva ao trabalho sexual e de que a forma de subverter a estrutura é por meio do Movimento Organizado das Trabalhadoras Sexuais. O tema se mostra relevante por se desenvolver na sociedade desde os primeiros dados históricos até a contemporaneidade e atingir toda uma classe de trabalhadoras, majoritariamente mulheres pretas pobres e trans.