VIOLAÇÕES À ÉTICA DE RESPEITO PELA AUTONOMIA E PELA DIGNIDADE HUMANA

UM OLHAR SOBRE A PEÇA TEATRAL DE SARTRE, A PROSTITUTA RESPEITOSA, SOB A PERSPECTIVA DE KANT

Autores

  • Ana Paula Filippo Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Palavras-chave:

DIREITOS HUMANOS, LIBERDADE, DIGNIDADE HUMANA

Resumo

Nosso intento, neste artigo, é descortinarmos a filosofia moral de Kant a partir da peça de Sartre, A prostituta respeitosa. Iremos apresentar a aplicabilidade dos seus conceitos de liberdade, dignidade, moralidade e imperativo categórico nesta peça.  Empregaremos, neste artigo, o método de estudo de caso, vale dizer, o empírico. Ao explanarmos a peça de Sartre, demonstraremos a aplicabilidade da filosofia moral de Kant.  Sartre narra a história de Lizzie, uma prostituta que se muda para o sul dos Estados Unidos, num cenário permeado de preconceito racial. No trajeto de trem, Lizzie é importunada sexualmente por homens brancos que, inclusive, provocavam os negros próximos dali. No embate entre eles, um negro é morto por Thomas, homem branco. Fred, primo de Thomas, com o propósito de obter o falso testemunho de Lizzie, dorme com ela e tenta suborná-la com dinheiro. Não obtendo êxito, o Senador Clarke, tio de Thomas e pai de Fred, manipula Lizzie, conquistando a sua confiança e tirando proveito de suas fragilidades, indo de encontro as suas convicções morais. Clarke utiliza-se de um discurso sedutor e utilitarista para induzi-la a assinar um falso testemunho. Conforme veremos, Kant propõe uma impactante filosofia moral, baseando- se na ideia de que somos seres racionais, dignos de respeito e de dignidade. Com intuito de relacionarmos tal filosofia com a peça de Sartre, far-se-á necessário conhecer o que Kant entende por liberdade. Segundo tal pensador, para ser livre, devo agir com autonomia, de acordo com uma regra que me imponho e não em consonância com determinações exteriores, heterônomas. Na obra em análise, nossa protagonista, de início, não pretende se envolver e, em seguida, almeja agir autonomamente. Lizzie, prostituta respeitosa, não iria assinar o falso testemunho, queria agir em função do dever, honrando sua promessa ao negro, testemunhando a seu favor. Entretanto, agiu de forma heterônoma, de acordo com o pensamento de Clarke.  Abordaremos, ainda, o que Kant pensaria da atividade profissional de Lizzie, prostituta e de Fred, quem explora a prostituição. Com tal propósito, explanaremos o seu conceito de dignidade humana. Segundo tal pensador, somos seres racionais, merecedores de respeito e devemos tratar as pessoas como um fim em si mesmas. De acordo com um dos imperativos categóricos de Kant, a humanidade deve ser tratada como um fim em si mesma, seja na nossa pessoa, seja na pessoa de outrem. Desse modo, Kant condenaria a prostituição por ser um meio para a satisfação sexual de outrem, transformando o corpo em mero objeto. Este filósofo também censuraria a postura de Fred por instrumentalizar um ser humano, no caso, Lizzie, para saciar o seu apetite sexual, não a respeitando como pessoa.  Violar o autorrespeito é tão censurável como violar o respeito ao próximo. Assim, os conceitos que afloram de sua filosofia moral abarcam vigorosas implicações sobre os direitos humanos e sobre a justiça, daí a relevância do tema.

Publicado

02.10.2024

Edição

Seção

SIMPÓSIO On36 - EFETIVIDADE DOS DIREITOS HUMANOS PELOS DIÁLOGOS DE FONTES: PROBL