VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
QUANDO A DOR TEM COR
Palavras-chave:
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA, RACISMO, PARTO HUMANIZADOResumo
No Brasil, apesar das normas que protegem a gravidez e o parto, as mulheres ainda são submetidas a tratamentos inadequados e inúmeras violências quando estão vivenciando a experiência da gravidez, do parto e do puerpério. Desde o pré-natal não realizado condignamente até a primeira consulta pós-parto, sem o devido cuidado com a mãe e o bebê, seus direitos são desrespeitados. A mulher carrega um conteúdo multidimensional de papéis, seja como filha, companheira, mãe ou funcionária, sempre precisando conciliar esses inúmeros encargos, mas sem ter efetivamente o protagonismo que lhe é devido. Segundo a OMS, a nível mundial, as taxas de cesáreas são maiores que 10% (índice recomendado) e são realizadas sem fundamento, sendo que cortes desnecessários e de forma inadequada e não fisiológica, podem causar danos a longo prazo, já que há alto risco de complicações, como hemorragias, infecções e lesões, além de influenciar no futuro reprodutivo destas, causando um maior risco para a gestação e aumento exponencial de quadros graves, podendo inclusive, resultar em mortes (OMS, 20151). No contexto da assistência pré-natal e puerpério, não possuem acesso a atendimento, informações e exames. No caso do Brasil, 1 dentre 4 mulheres já sofreram violência obstétrica, sendo reportada por 12,6% delas e associada ao estado civil, à menor renda, à ausência de companheiro, ao parto em posição litotômica, à realização da manobra de Kristeller e à separação precoce do bebê após o parto, sendo importante dizer, que as mulheres negras (pretas e pardas), são as que mais sofrem este tipo de violência (LANSKY, 20192). Cada toque violento, só encontra silêncio, pois muitas não têm noção da violência que sofrem, não se identificam como vítimas, têm receio de repreensão, julgamento, ou até abandono, o que é somatizado com a falta de apoio, sendo submetidas a grande risco, desde procedimentos de rotina desnecessários, sem o prévio aviso ou consentimento da paciente, até abusos verbais, restrição da presença de acompanhante, violação de privacidade, recusa em administrar analgésicos, violência física, etc. É notório, que mulheres negras tem maior tempo de espera para atendimento e menos tempo dentro do consultório do que mulheres brancas. No Sistema Público de Saúde (SUS), o racismo institucional, tem se revelado não apenas de forma individualizada, mas no atendimento e nas práticas dos profissionais. É preciso qualificar o debate, re (visitar) esses temas tão sensíveis e educar e sensibilizar tanto os profissionais, quanto a população, pois, o direito ao parto humanizado, com a utilização de boas práticas obstétricas, amplia o olhar sobre o significado do parto e nascimento para a mulher, para o bebê e a família. É fundamental, a mulher ter uma assistência digna e respeitosa, independentemente de raça ou status econômico/social, sem que sejam vítimas de qualquer forma de violência ou discriminação.