O O TRABALHO DE CUIDADO NO CONTEXTO DO SISTEMA CAPITALISTA

UMA CORRELAÇÃO A PARTIR DE TORTO ARADO

Autores

  • Estela Elen Gomes de Oliveira Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
  • Roberta Candeia Gonçalves Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Palavras-chave:

TEORIA DA REPRODUÇÃO SOCIAL, TRABALHO DE CUIDADO, CAPITALISMO, PATRIARCADO, TORTO ARADO

Resumo

A pesquisa tem como objeto analisar a correlação entre a imposição às mulheres do trabalho de cuidado, a desigualdade de gênero e a manutenção do sistema capitalista a partir da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, no contexto do que atualmente se denomina de crise do cuidado, vinculada ao binômio família-trabalho e seus aspectos socioeconômicos. É sobre essas perspectivas que são analisadas (a) a base da opressão às mulheres a partir do âmbito doméstico e a Teoria da Reprodução Social; (b) a naturalização e a invisibilização do trabalho de cuidado em Torto Arado, para (c) observar as contradições do capitalismo entre a necessidade da reprodução da mão de obra e a precarização deste trabalho. Quanto à metodologia, a pesquisa optou pela abordagem dialética, pois compreende as modificações e transformações sociais através da literatura; o principal método de pesquisa é o bibliográfico, com fundamentação teórica no marco do feminismo materialista. A pesquisa apresenta, de forma breve, a construção histórica do sistema patriarcal e sua incorporação e interdependência com o capitalismo a partir da Era Moderna, e a Teoria da Reprodução Social, oriunda da concepção materialista da História, apresentada por Karl Marx, mas com a ressignificação dada por teóricas feministas, como Tithi Bhattacharya, Cinzia Arruzza e Nancy Fraser. Os reflexos destas relações sociais foram contextualizados na obra literária Torto Arado, a qual retrata o cotidiano de trabalhadores que vivem em regime de servidão no sertão brasileiro. A representação da violência de gênero é analisada através de suas protagonistas, personagens femininas pobres, negras e sem educação formal, as quais, mesmo com potentes e distintas trajetórias de vida, foram marcadas pela generificação de seus papéis sociais. Compreendeu-se que o acesso aos espaços públicos de poder é orientado pelo gênero, perpassado por raça, classe e território. O ingresso das mulheres ao mercado de trabalho formal deu-se especialmente através do espelhamento das funções domésticas em atividades assalariadas, sem que o trabalho de cuidado executado no ambiente privado fosse ressignificado. Ainda, depreendeu-se a divisão racial do trabalho de cuidado remunerado, no qual raça e classe determinam que cabe às mulheres negras suprirem esta atividade no interior das famílias de mulheres brancas de classe média. Assim, o cuidado como inerente ao feminino permanece na estrutura da socialização de mulheres e meninas, impondo-se como exigência do patriarcado e que, no âmbito do capitalismo, é uma opressão aprofundada conforme marcadores de raça, classe e território. Observa-se uma contradição inerente ao capitalismo, já que o próprio sistema produz o esgotamento da força de trabalho de que depende para produzir e reproduzir sua mão-de-obra. Por fim, a partir desta análise e da correlação com Torto Arado, compreende-se que, de maneira institucionalizada, o patriarcado e o capitalismo não reconhecem a atividade de cuidado exercida pelas mulheres como trabalho, pois estabelecem o ideal de que este cuidado é próprio da personalidade feminina, o que as relega ao ambiente privado doméstico ou público subalternizado. Conclui-se que o trabalho de cuidado segue invisibilizado economicamente, intensificando, portanto, a opressão de gênero, raça e classe no capitalismo.

Biografia do Autor

Roberta Candeia Gonçalves, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Doutora em direito pela Universidade de Brasília - UnB

Professora do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Publicado

02.10.2024

Edição

Seção

SIMPÓSIO On61 - CRISE DO CUIDADO, JUSTIÇA REPRODUTIVA E DIREITOS HUMANOS: ABORDA