A REPRESENTAÇÃO DO RACISMO AMBIENTAL EM ONE PIECE E A TOMADA DE DECISÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS

Autores

  • Lara Pereira da Silva UNIRIO

Palavras-chave:

RACISMO AMBIENTAL, DIREITOS HUMANOS, POLÍTICAS PÚBLICAS, ARTE JAPONESA

Resumo

O trabalho analisa a perspectiva sobre racismo ambiental apresentada no mangá One Piece, focando no arco de Wano e destacando a arte como representativa na tomada de decisão em políticas públicas. Na década de 80, Lindbloom afirmou que um sistema político baseado em preferências tende a funcionar melhor que um baseado estritamente em intelecto. Isso significa que, para eleição de escolhas públicas, diversas forças convergem para além da racionalidade, motivo pelo qual é útil uma leitura crítica das escolhas públicas, onde reside a pertinência da análise. Este trabalho pretende discutir a relevância da obra para uma perspectiva sobre racismo ambiental na tomada de decisão. Para isso, uma análise qualitativa do desenvolvimento do arco será realizada, buscando identificar similitudes orientadoras. A hipótese é que Wano representa de forma sensível a forma como povos vulneráveis são afetados de forma desigual pelos danos ambientais, o que pode contribuir em como pensamos o processo decisório. Em resumo, o trabalho destaca como a distribuição desigual de riscos ambientais está ligada à classe e raça, evidenciando a importância de considerar essas questões na tomada de decisão em políticas públicas. O termo racismo ambiental destaca a desigualdade geográfica na distribuição de riscos ambientais, ressaltando a lógica associada a corpos menos desejados em uma hierarquia social. O mangá, criado por Eiichiro Oda, narra as aventuras de Monkey D. Luffy e seu bando em busca do tesouro One Piece. Na jornada pelos mares, o grupo é confrontado por mazelas sociais, se engajando na luta contra concentração de poder e contra o Governo Mundial, um governo fascista. No arco, o Bando chega até o País de Wano, uma representação do Japão com elementos da Era Edo sob domínio do Imperador Kaido, que o colonizou há 20 anos. Uma das maiores forças do líder reside na produção de uma droga artificial, o Smile. As fábricas de Smile geram poluição extrema, deteriorando ar, terra e águas de Wano. Logo o leitor é apresentado a Tama, uma garotinha que encontra com Luffy e imediatamente adoece pelos efeitos da ingestão de água contaminada. Assim, assistimos a morte tomando o território e o povo padecendo pelos efeitos da poluição, enquanto o xogunato permanece intocado na Capital. Mbembe entrelaça a construção de biopoder foucaultiana para cunhar a expressão necropolítica. Em Wano, somos apresentados a materialização desse pensamento: a manipulação, através do poder, de quem deve morrer e de quem deve viver. E se viver, em que condições. No Rio de Janeiro, as regiões mais pobres e racializadas são anualmente assoladas pelas chuvas, e as políticas de contenção de mudanças climáticas se concentram fora das periferias. É aquilo que Mbembe enxergou como forma contemporânea que subjuga a vida ao poder da morte. Para Dente, a existência de um problema coletivo cujos contornos são inevitavelmente objeto de interpretação é decisiva na tomada de decisão. Em policy making, se fazem decisões com subjetividade. No caso das políticas ambientais, o analista pode estar orientado pela hierarquia dos corpos, coisa que One Piece demonstra ao retratar o racismo ambiental em Wano.

Publicado

02.10.2024

Edição

Seção

SIMPÓSIO On39 - DIREITOS HUMANOS ENTRELAÇANDO ARTE, LITERATURA E POLÍTICAS PÚBLI