O DOCENTE NO PROGRAMA DE ENSINO INTEGRAL DO ESTADO DE SÃO PAULO E A PRECARIZAÇÃO SUBJETIVA DO TRABALHO

Autores

  • Hugo Leonardo de Araújo Dias Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Palavras-chave:

PROGRAMA DE ENSINO INTEGRAL; NEOLIBERALISMO ESCOLAR; PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO; DIREITOS HUMANOS.

Resumo

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) defende o desenvolvimento de um trabalho com valor social, apontando a necessidade do homem em não ser tratado como mercadoria e assim passível de escambo e sujeição. O trabalho docente tem grande relevância social, seu desenvolvimento tem reverberações em diversos campos da sociedade e por isso deve ser analisado e estudado, visando aprofundar discussões sobre o ofício docente em um mundo marcado pela exploração, com cobranças excessivas e o cumprimento de metas inatingíveis, o que tem efeitos profundos na relação de trabalho e costumam abalar a subjetividade dos professores, violando direitos humanos fundamentais e sua dignidade.  Este estudo tem como objetivo analisar, a partir da fala dos professores a entrevistas abertas,  as dinâmicas do Programa de Ensino Integral (PEI) - como a avaliação de desempenho - e suas implicações no trabalho docente, refletindo sobre os efeitos na subjetividade dos professores que fazem parte do PEI. A metodologia utilizada no estudo tem como abordagem a pesquisa qualitativa. Foram analisados os documentos que pautam as diretrizes do Programa de Ensino Integral do Estado de São Paulo e realizadas entrevistas semi estruturadas, utilizando como instrumento para a coleta de dados, gravações em áudio das entrevistas e posteriormente transcritas. Os sujeitos participantes do estudo foram cinco professores que já passaram pela avaliação de desempenho (avaliação 360) e seguem trabalhando em uma escola do Programa de Ensino Integral (PEI) paulista. Ao analisar as diretrizes do PEI,  os pesquisadores afirmam que muitas ferramentas de gestão escolar e pedagógica não colaboram com o fortalecimento de ações educativas nas escolas pertencentes ao programa, apontam ainda que o PEI tem nuances neoliberais que reverberam na subjetividade docente, favorecendo o desenvolvimento de educadores pautados pelo gerencialismo,  ou seja, do sujeito neoliberal, que deve ser capaz de se adequar às modulações da lógica do mercado e assim estar em constante busca pelo desempenho, eficácia, sucesso e seu desenvolvimento como empresa de si, possibilitando o surgimento de um docente como mercadoria. Os dados analisados pelas entrevistas revelam que os professores que exercem sua docência no PEI não encontram na avaliação de desempenho e nas diretrizes do PEI, ferramentas significativas para o desenvolvimento de seu trabalho, alegam que as dinâmicas do PEI podem ser utilizadas como mecanismos nas relações de poder na escola, gerando um mal-estar entre os educadores ao estimular punições, a meritocracia, a competitividade, a culpabilização do indivíduo e seu constante controle, promovendo um ambiente ruim para a dignidade humana e um trabalho submisso a regras draconianas, que precarizam o trabalho não apenas de forma objetiva, mas também subjetiva.

Publicado

02.10.2024

Edição

Seção

SIMPÓSIO On100 - EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RAC