BURNOUT MATERNO
INDIVIDUALIZANDO UM PROBLEMA COLETIVO
Keywords:
maternidade, burnout materno, saude mentalAbstract
A pesquisa analisa 23 reportagens e postagens em meios de comunicação do Brasil e dos Estados Unidos, acerca de um novo fenômeno: o burnout materno. Observar como essa nova patologia está sendo retratada pela imprensa é de fundamental relevância pois a cobertura midiática ajuda impacta diretamente em como o esgotamento físico, mental e emocional das mães é retratado, qual sua urgência e também aponta caminhos para como lidar com essa questão. Dessa maneira, um dos objetivo do projeto é detalhar as maneiras em que o burnout materno é retratado pela mídia, ressaltando como a grande maioria faz uma análise semelhante dessa condição materna. Ou seja, detalhar o modo em veículos de diversas linhas editoriais variam na forma mas apresentam um conteúdo praticamente igual. Para isso, seguem um mesmo caminho – um caminho, aliás, cheio de contradições: apresentam essa nova patologia, relatam exemplos que provam sua gravidade, listam os muitos sintomas. Feito isso, de maneira geral, passam a sugerir dicas de como as próprias mães devem combater e vencer o burnout materno elas mesmas. Segue-se então a conselhos do tipo fazer caminhadas relaxantes, aceitar ajuda de sua rede de apoio, ler um livro, praticar autocuidado. Uma hipótese inicial é a de que essa contradição entre doença grave X condição que pode ser tratada com caminhada leva a uma culpabilização da mãe, bem como a responsabiliza pela própria situação de esgotamento mental e emocional. Assim, a maneira como o burnout materno é apresentada acaba ignorando as verdadeiras causas da sobrecarga materna e o consequente adoecimento das mães: a falta de políticas públicas que apoie na criação de seus filhos, tais como creche em horários justos e direitos trabalhistas garantidos, entre muitos outros direitos negados a mães, especialmente as negras e periféricas. A consequência desse retrato feito pelas reportagens analisadas, citando especialistas entrevistados, é a de que ao responsabilizar a mãe, se retira a responsabilidade de outros atores responsáveis pelas crianças. A saber: o Estado e a sociedade – como previsto na Constituição brasileira – e, no caso de mães empregadas, também as próprias empresas, de maneira indireta. A pesquisa é realizada a partir de uma metodologia de catalogação, análise quantitativa e qualitativa das reportagens selecionadas, com base na audiência e na relevância dos veículos, tanto brasileiros como estadunidenses. Por fim, a pesquisa parte de uma epistemologia feminista, focando nos conceitos de parentalidade isolada de bell hooks; o mito do amor materno de Elisabeth Badinter; a patologização das mães de Betty Friedan e, sobretudo, o conceito de maternidade institucional de Adrienne Rich, que corrói a experiência da maternidade em si.