A INCLUSÃO DAS POPULAÇÕES LOCAIS NO PROCESSO DE OUTORGA DE UM EMPREENDIMENTO DE MINERAÇÃO DIANTE DA OMISSÃO DO ESTADO
Keywords:
Mineração - Populações locais - Vulnerabilidade - Inclusão - Direitos Humanos - Outorga estatalAbstract
Estudos decorrentes das tragédias recentes em série envolvendo empreendimentos de mineração evidenciaram que parte significativa das externalidades negativas desta atividade são suportadas pelas comunidades do local da mina; fator que vem, inclusive, causando seu adoecimento. Os dados do setor de mineração indicam o incremento do risco de tragédias, bem como que os impactos socioambientais, e sobre a saúde da população local, não constituem excepcionalidade. Até que mudanças estruturais no modelo de aproveitamento econômico geopolítico do setor de mineração permitam a alteração desse padrão, esta pesquisa busca identificar, em um primeiro momento, a omissão do Estado brasileiro na regulação setorial. Nos termos do art.176 da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, a outorga para fins de aproveitamento mineral tem natureza discricionária, e neste primeiro momento, a pesquisa reconhece a omissão do Estado no não exercício da discricionariedade da outorga, considerada esta em seu binômio oportunidade e conveniência, com fundamento em diversas teorias jurídicas. Em um segundo momento, busca-se construir mecanismos participativos de inclusão das comunidades afetadas no processo de outorga. Segundo o conceito de Justiça de Paul Ricoeur, é preciso que as populações dos locais de um empreendimento minerário sejam incluídas no processo de outorga que lhes afeta diretamente. Reconhecendo os direitos humanos como processos de luta para que a todos sejam asseguradas as condições mínimas de dignidade, o trabalho avança a partir da omissão do Estado em efetivamente regular o setor de mineração, na busca de espaços de inclusão participativa das comunidades locais no âmbito institucional em um segundo momento. Utilizando a metodologia de abordagem qualitativa, natureza básica e procedimento bibliográfico, o estudo utiliza as teorias jurídicas sobre a discricionariedade, bem como as teorias de Paul Ricoeur sobre Quem é o sujeito de direito?, assim como a perspectiva de direitos humanos de Joaquím Herrera Flores. Tendo como paradigma a teoria do pensamento complexo de Edgar Morin, busca-se romper com a fragmentariedade e redução artificial da realidade partindo-se do cenário trágico representado pelos rompimentos em série das barragens de mineração em direção à identificação do papel regulatório do Estado brasileiro, atualmente omisso, buscando-se a qualificação do processo de outorga por meio da inclusão participativa da população local com fundamento jurídico na legislação vigente. O estudo propõe a construção de formas dialógicas e qualificadas de inclusão das comunidades locais no processo de outorga como forma de implementar uma regulação mineral efetiva e eficaz por parte do Estado.