A DESIGUALDADE SOCIORRACIAL E A PANDEMIA DO COVID-19

OS EFEITOS DA NECROPOLÍTICA BRASILEIRA NA GESTÃO SANITÁRIA DE ENFRENTAMENTO AO CORONAVÍRUS

Authors

  • Ana Paula da Silva Sotero Universidade Federal da Bahia
  • Luciano de Oliveira Souza Tourinho Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Keywords:

Desigualdade; Necropolítica; Pandemia; Vulnerabilidade Sociorracial.

Abstract

A pandemia do Covid-19 revelou a instabilidade do direito sanitário das nações, em razão da crescente curva de contaminação e do número de mortos. Diante desse cenário de incertezas, a Organização Mundial da Saúde (2020) recomendou aos países a adoção de medidas sanitárias de distanciamento social e de higienização para dirimir o impacto do coronavírus na realidade social e evitar o colapso dos sistemas de saúde. No cenário brasileiro, a contaminação do coronavírus se deu de forma exponencial, revelando a dificuldade do sistema de saúde de ofertar leitos e assistência sanitária adequada para toda a população. Nessa conjectura, a disfuncionalidade do sistema de saúde desnuda as deficiências de prestações sociais de forma igualitária, em um contexto de vulnerabilidade sociorracial, que diferencia os sujeitos pelas fragilidades econômicas e pelas marcas do racismo estrutural que estão enraizados na formação do Estado brasileiro. Nessa perspectiva, observa-se que, apesar da abolição da escravidão já ter sido consolidada no Estado de Direito, as amarras do racismo nunca foram superadas e se reverberam na realidade contemporânea. No cenário do pós-abolicionismo, observamos que os negros deixaram de ser objetivados como mercadorias, mas passaram a ser vulnerabilizados e desassistidos do exercício dos seus direitos fundamentais na sociedade contemporânea. Tais conjunturas conduzem ao processo de necropolítica do Estado brasileiro, que discrimina e exclui os povos negros das políticas assistenciais e os colocam à margem social. Na realidade pandêmica, os efeitos necropolíticos ganham contornos ainda mais desastrosos, uma vez que o racismo estrutural tem pautado o direcionamento das políticas públicas assistenciais para a elite branca, restando aos negros e pobres à exclusão social, em um processo de invisibilização, destinados às zonas de esquecimento da estrutura social. Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo analisar os impactos das desigualdades sociorraciais e os efeitos necropolíticos na gestão da pandemia do coronavírus no Brasil. Cumpre salientar que, diante da possibilidade do colapso de saúde no contexto europeu, foi autorizado a realização da “Escolha de Sofia”, como a decisão difícil de escolher entre vidas, devendo dar preferência para a população mais jovem, por um critério etário. Quando nos deparamos com o cenário de desigualdade sociorracial brasileira, observamos que a “Escolha de Sofia” é necropolítica, determinando os povos que terão acesso ao direito à saúde e restando aos povos estruturalmente marginalizados à eliminação de seus corpos, em uma verdadeira tragédia humana. Por esse contexto, a presente pesquisa se justifica na necessidade de demonstrar os dilemas e desafios da sociedade brasileira para a promoção da igualdade efetiva do direito sanitário na gestão da pandemia do coronavírus, a partir da investigação do percurso histórico de formação social do país, a fim de desmistificar a estrutura simbólica do racismo e das desigualdades dos povos. Para delinear a presente proposta, o estudo fará uma análise sistemática dos dados estatísticos do racismo estrutural e dos efeitos da necropolítica na realidade da pandemia do coronavírus no país. Ademais, a incursão teórica utilizará uma abordagem crítico-reflexiva sobre os entraves necropolíticos para a concretização do direito sanitário no Estado Democrático de Direito.

Author Biography

Luciano de Oliveira Souza Tourinho, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Pós-doutor em Direitos Humanos (Direitos Sociais) pela Universidad de Salamanca. Doutor em Direito Público - Direito Penal pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Direito Público - Direito Penal pela Universidade Federal da Bahia. Especialista em Direito Público e em Ciências Criminais pela Faculdade Independente do Nordeste. Graduado em Direito pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Graduado em Direito pela Faculdade Independente do Nordeste. Professor Adjunto de Direito Penal e Direito Processual Penal na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Professor de Direito Penal na Faculdade Santo Agostinho de Vitória da Conquista. Diretor Geral da Faculdade Santo Agostinho de Itabuna. Coordenador do Núcleo de Estudos de Direito Contemporâneo - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Coordenador do Núcleo de Estudos de Direito Contemporâneo - Faculdade Santo Agostinho de Vitória da Conquista. Pesquisador no Grupo de Pesquisa Migrações Contemporâneas. Autor de obras jurídicas. Escritor de obras jurídicas. Avaliador do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (BASis).

Published

2022-01-06