RELAÇÕES ENTRE OUTRIDADE, ALTERIDADE E SINDEMIA

VIOLÊNCIA DE GÊNERO FRENTE AO DISTANCIAMENTO SOCIAL

Abstract

Neste artigo, convida-se o leitor a compreender os conceitos de sindemia, outridade e alteridade para problematizar a violência de gênero dentro de um contexto de distanciamento social, estimulado e em muitos contextos imposto, diante das necessidades sanitárias e epidemiológicas da Sars-Cov-2, a Covid-19. A pergunta suleadora é: além de ser decretada como uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde – OMS, tomando a Covid-19 como uma sindemia, qual a relação com a violência de gênero, especialmente contra mulheres e crianças, em um cenário de distanciamento social? Para responder a pergunta nuclear, divide-se a pesquisa em duas seções; num primeiro momento discute-se com aportes teóricos o conceito de sindemia, para promover uma reflexão acerca da sobreposição e inter-relação de problemas dentro de um contexto de desigualdade social, econômica, familiar, racial, dentre outras, como no Brasil, bem como os conceitos de outridade e alteridade, com o objetivo de compreender as relações sociais e de subjetivação que constituem o ser humano e como estas são afetadas diante de um cenário em que se faz necessário o isolamento ou distanciamento social como forma de prevenção à contaminação e promoção da saúde. Num segundo momento, discute-se a violência de gênero, que antes da pandemia/sindemia já se mostrava um desafio no Brasil, mas que dentro de um contexto de distanciamento social se agravou ainda mais, verificando por meio de estatísticas o aumento de casos de violência de gênero intrafamiliar durante a pandemia/sindemia do novo coronavírus. Neste sentido, o fechamento de escolas, atividades sociais, acesso reduzido a estabelecimentos comerciais e bancários, por exemplo, mostraram-se muito importantes nas ações para minimizar a disseminação do novo coronavírus, mas, como efeito colateral, reduziram os locais de constatação da violência e acolhida das vítimas. Conclui-se que as relações de alteridade frente ao Outro contribuem para o enfretamento à violência de gênero e como o viver em comunidade pode ser particularmente importante ao combate desta modalidade de violência diante de contextos em que o lar não se revela como lugar de proteção e cuidado. Em termos metodológicos, mesclam-se as abordagens de análise e hermenêutica, dentro de uma pesquisa, tanto quantitativa, quanto qualitativa, ao inter-relacionar análise de dados e interpretações de conceitos e categorias de compreensão de autores que verticalizam as problematizações propostas.